Bom dia, bom dia. Todos ensonados a tomar o pequeno-almoço, a lavar a cara, a escovar os dentes, a entrar nos carros, a esperar a abertura do portão.
O taiso vai começar. A areia recebe os pés com relutância. Mãos acima, cabeça a baixo, rodar os ombros, olhar para trás, dobrar os joelhos, contrair as pernas, tocar nos pés, saudação e obrigado.
Segue-se o kihon, técnicas simples mas desafiantes, sempre mais longe, mais baixo, mais relaxado. Atenção aos ombros, atenção à postura. Mais longe, mais baixo, com mais emoção. As pernas queixam-se, o coração está acelerado, e quando estamos já a pisar o limite, dizem-nos para descansar, e partilham mais um pouco de sabedoria.
Durante o estágio houve outros temas que se repetiram por causa da sua importância:
A procura do sentimento por trás de cada técnica.
No fundo é como uma combinação de um cofre que temos que encontrar sozinhos. Existem muitas maneiras de fazer um gedan-barai, e certamente que quase todas estarão erradas, mas se procurarmos entrar naturalmente no ataque do oponente, provavelmente estaremos no bom caminho.
Procurar vencer-nos a nós próprios.
Como disse Kyuzo Mifune “não há oponente à minha altura por isso vou procurá-lo dentro de mim próprio.” É este sentimento que devemos ter durante o treino. Se nascemos com grande flexibilidade, então temos que procurar ir ainda mais além. Derrubar dez oponentes é fácil, mas derrubar a desconcentração, a dor, o medo, isso sim, é um desafio digno de enfrentar.
Treinar sozinho é essencial.
Não se é um bom pintor só a participar em duas aulas de pintura por semana, ou um bom guitarrista sem treinar sozinho em casa. Não é possível aprendermos a arte apenas a partir da experiência de outra pessoa. Temos que ser os nossos próprios mestres. E isto implica praticar sozinho em casa, enquanto caminhamos no corredor ou estamos sentados a ver televisão.
Nunca perder os princípios.
Quando a dificuldade ou a complexidade aumenta, a primeira coisa a cair são os princípios:
Manter a cabeça alto, fora da dor que o corpo sente. Estar sempre ligado ao oponente de corpo e alma. Avançar perante qualquer perigo.
Temos que nos esforçar e manter os princípios vivos em todas as situações, principalmente nas mais difíceis.
Só se passou uma semana? Não acredito. Mas para o ano há mais. Obrigado e até à próxima.
João Pedro Pio